segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Crônica: O preço da justiça (Assunto: Política)


Quanto vale a dignidade humana? Quanto vale o caráter de um homem? De um pai de família? Qual é o preço da lei? Da justiça? Não tem? Então por que tanta impunidade? Por que tanto desrespeito com o ser humano? Falam tanto em humanismo, mas não respeitam a própria vida: Acho até que esqueceram que além do poder político, o judiciário também necessita do povo! Que país é este? Que vida é esta? Chego a questionar qual será o futuro do pobre... 
Maria Cristina da Silva esta sou eu, mãe aos 25 anos não por inconsequência, mas por amor... Como amei o Luiz, como foram bons os momentos que vivemos juntos, a nossa cumplicidade, o nosso jeito de se olhar, aquele namoro gostoso e sincero que parecia que nunca ia ter fim... Tivemos uma linda filha Marta, muitos dizem que se parece comigo, meu coração já vê diferente, para ele a Matinha é nada mais, nada menos que a aparência delicada do pai que tanto amou a filha, que tanto sonhou com a mesma! 
Estamos aqui em 2030, a desigualdade no Brasil aumentou, os homicídios aumentaram em 950%, a saúde chegou ao último lugar no mundo, a educação é uma das piores, todos os dias os telejornais mostram crimes brutais de alunos contra os professores (hoje por exemplo mostraram um fato de um aluno que esquartejou o diretor da escola), legalizaram a maconha e os vícios aumentaram de forma avassaladora, o Nordeste Brasileiro, hoje é idêntico ao sul africano, faz 5 anos que não chove, os gados que antigamente assustavam em imagem por se decompor no solo árido e o sol ardente, hoje é até questionável se realmente existiu, pois poucos tem esperança de um novo cenário e o pior de tudo: legalizaram a pena de morte no Brasil: com os presídios super lotados esta se tornou uma das melhores soluções - além do nível de corrupção no Brasil ter aumentado em 700%, os políticos preferiram matar que se preocuparem com os presidiários, sem contar que o governo federal cortou o plano genérico e hoje os remédios custam horrores, países como Irã e Iraque estão em melhores situações que o Brasil.  
Sempre tive uma situação econômica no nível médio, não consegui concluir os estudos... Fiz até a 3ª Série do Ensino Médio e pelo motivo da minha mãe viver doente, resolvi abandonar o sonho de uma faculdade para acompanhar aquela que me cuidou sozinha, pois meu pai havia falecido quando tinha apenas três anos de idade (descobriu um câncer curável no fígado, mas por inadimplência do sistema público de saúde houve um erro cirúrgico e ele morreu na mesa - fomos na justiça, meu Deus: justiça, chega ser engraçado - recorremos aos nossos direitos, mas engavetaram o caso), minha mãe, a Dona Rosa, Rosinha como é conhecida no Bairro trabalhou por 20 anos na Pastoral da Criança... Na época além do meu amparo, teve ajuda das pastorais e agentes católicos... Mas já não havia o que se fazer, aquele enfisema pulmonar que os médicos diagnosticaram era câncer (embora ela nunca tenha fumado na vida), quando descobriram já tinha dado metástase e minha mãe não resistiu... Lá ficou eu no mundo, sem ninguém... Nem meus padrinhos de batismo e crisma eram mais vivos... Foi quando conheci o Luiz, namoramos, fizemos planos para o futuro e nos casamos. 
Luiz dizia que eu era inteligente, que eu tinha uma visão diferente do mundo e queria a todo custo que eu concluísse o Ensino Superior, ele já tinha cursado Jornalismo e queria que o meu futuro fosse outro, era um homem alegre para vida, sonhador, em alguns momentos chegava a ser utópico... Foi quando eu me descobri grávida! Dizem que os homens não engravidam... Mas ele gestou a Marta comigo... Quando ela nasceu, lá estava ele sofrendo, sorrindo, chorando e me amando...  
Certo dia o Luiz recebeu uma carta, não tinha remetente, quando abriu tinha um DVD e apenas um pedaço de papel escrito "sua fonte off"! Luiz suspirou "sempre me ajudando"... Queria saber quem era, mas o Luiz era um profissional centrado, ético e por mais que me amava me dizia que precisava respeitar o seu diploma, por tais motivos guardava com ele alguns segredos! Começou então assistir o vídeo e eu não me contive e assisti junto: 
" - Poxa meu! Você vai acabar expondo o real motivo da Pena de Morte aqui no Brasil... 
- Fica sussa! Brasileiro é fácil de ser passado para trás! É só colocarmos uma conversinha de politicamente correto, de justiça, cutucar na ferida de quem já perdeu um ente querido, essa conversinha mole entendeu? 
- Ainda bem mano!  de saco cheio de ficar aí sustentando bandidinho que não tem o que fazer e vai pra cadeia só pra levar uma vida boa... É mais grana pro nosso bolso!" 
Luiz acabou se decepcionando! Estava com esta matéria exclusiva que podia colocar fim na impunidade que viria a ser a pena de morte, mas no mesmo instante chega em seu e-mail a notícia que foi assinado e legalizado a pena de morte no país... Luiz não ficou quieto, entrou num consenso com o editor chefe e publicou a notícia, o problema era que a fonte era off, não tinha como revelar quem tinha enviado tal coisa... Não levou muito tempo para o juiz decretar voz de prisão para ele, os políticos envolvidos no escândalo armaram para cima dele e o mesmo perdeu o direito da sela especial, ficou preso com os outros presos, como se fosse um qualquer, o editor do jornal onde trabalhava conseguiu o melhor advogado do Brasil, o juiz já estava comprado e recorria dizendo que um furo como o do Luiz podia acarretar graves consequências e era preciso ser justo, todo dia fazia as orações pedindo por justiça, o que o juiz estava fazendo era a pior de todas... Foi quando Mario, o editor do jornal bate na porta da minha casa com o advogado: 
- Maria você precisa ser forte! 
- O que você está fazendo aqui Mario, e, ainda mais com esse advogado? E que conversa é essa de precisar de ser forte? 
- Confundiram o Luiz com dos presidiários que estava condenado a pena de morte... 
- O que você está falando Mario? 
- Isso mesmo Maria, o Mario está morto! 
Só lembro que naquele instante perdi a consciência e desmaiei... No outro dia tive que cuidar do velório, aquele foi o pior momento da minha vida... Gritei, clamei por justiça... Mas o Luiz, o meu Luiz estava morto... Morto por uma causa que ele mesmo lutou para ser banida, o seu advogado chegou em mim, me abraçou, pegou nas minhas mãos e disse: 
- Maria eu não vou dizer que sei o que você está passando, pois não sei! Seu marido, isto eu te juro será enterrado nem que seja a última coisa que faço nesta vida, agora é questão de honra e eu vou fazer justiça... Nunca mais quero no histórico deste país novos "Luizes"... Esta foi a primeira e última fatalidade, vou entrar para juiz! 
Aquela fala fez meus olhos brilharem... A esperança de justiça! Em três anos João, o advogado de Luiz conseguiu vencer a causa, estava eu no plenário e pude falar com peito aberto: "Eu estava com o Luiz quando ele recebeu o vídeo", chorei, mas continuei "Não sabia que as consequências seriam tão sérias... Ele lutou com todas as forças por justiça e aqueles que estão governando o país pelo poder ganho do povo, preferiu aniquilar a nação, que procurar saídas! Estive com o juiz João nesta luta para o fim da pena de morte no Brasil... A justiça aqui nunca foi justa, sempre foi favorável! Perdemos jornalistas como Tim Lopes, como o meu Luiz: chega de impunidade, não é matando que teremos justiça... É difícil perdoar quem armou esta emboscada para o Luiz, ninguém confunde presidiário, aquilo foi um acerto de contas pelo Luiz querer justiça... Não desejo a morte aos políticos corruptos que conseguiram a Pena de Morte no Brasil, mas desejo do fundo do meu coração que a justiça seja feita". 
Hoje estou criando Marta sozinha... Ela me pergunta do pai, olho pra ela e falo com brilho nos olhos "Seu pai, foi o herói que conseguiu banir pelo menos uma das trilhares de injustiças que há no Brasil"... Para terminar este conto, lhe pergunto: "vale a pena urrar por pena de morte? Ou seria mais favorável diálogo, compreensão e o seu jeito mais humano de ser: perdoar!" 

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